Capítulos I, II e III.
Cap I
A autora busca determinar, essencialmente, o ponto central de tensão entre os conceitos mais conservadores de ecologia, que tendem cientificamente a determinar a natureza como um ente autônomo e “intocável”, e os conceitos mais modernos e que vislumbram este ente como constituído de várias vertentes, dentre elas a de relações socioambientais.
“A visão naturalizada tende a ver a natureza com o mundo da ordem biológica, essencialmente boa, pacificada, equilibrada, estável em sua interações ecossistêmicas” (p.35). Tal visão infere que a perspectiva de interação da sociedade com o meio é prejudicial, contando a partir daí com uma ideia preservacionista radical como suporte.
Através de uma visão que liga intrinsecamente a sociedade com o meio natural, a autora propõe o exercício de “trocar as lentes” dessa visão cientifica/conservadora por lentes que desloquem não somente o olhar, mas as mentalidades, palavras e conceitos.
A perspectiva ecológica segundo a autora, não reside somente na ideia de conservar a natureza de uma forma restrita, mas atrelar essa ideia a conceitos de interação social e de busca por uma relação mais harmoniosa e pacífica entre a sociedade e o ambiente, pois entende que não há como destituí-los de uma vivência interligada. Infere que tal interação prestigiaria tanto as práticas científicas como fomentaria uma construção entre sociedade e ambiente mais justa, onde a educação ambiental teria ação singular na composição e formação do sujeito ecológico.
Cap II
Através da mudança de perspectiva sobre a temática ecológica, abandonando conceitos engessados na esfera cientifica, a autora passa a analisar as decorrências desse “novo modelo”. A perspectiva de uma critica social mais acentuada, transladando as esferas política, econômica bem como a cientifica, faz com que a autora aproxime os novos ideais ecologistas dos movimentos ditos “contraculturais”, oriundos das décadas pós-guerra, 1960/70, no que tangem a sua percepção central de “ir contra”, de criticar, uma cultura predominante e socialmente estabelecida, acentuada e fortalecida principalmente pelo novo modelo capitalista (consumista) que chamo de “desenfreado”. Desenfreado entendendo-se como um modo de produção que despreza seus próprios limites em detrimento de um “crescimento”.
“O repúdio a uma racionalidade instrumental, aos ideais do progresso, ao individualismo e a lógica do custo-benefício meramente econômico, pode ser observado no ideal de uma sociedade ecológica que se afirma como via alternativa à sociedade capitalista de consumo.” (p.48).
A citação, segundo a autora, traz o cerne predominante desse novo modelo ecologista.
Trazendo para o plano brasileiro, a autora infere que a eclosão das discussões ambientais possuiu determinada singularidade pois se deu ao mesmo tempo das discussões políticas vividas em épocas de governo autoritário (ditadura), portanto, fortemente carregas pelo viés político. Propõe a análise das estruturas do pensamento brasileiro ligadas intrinsecamente aos ideais políticos de critica e desejo por mudanças na situação vigente da época. Entende que a educação ambiental traz consigo mudanças tanto de práticas quanto de consciência, à curto prazo, como incita e promove, principalmente, mudanças estruturais à longo prazo, dialogando com os campos político, econômico, social, cultural e educacional, de tradições, teorias e saberes.
“Essa aposta na formação de novas atitudes e posturas ambientais como algo que deveria integrar a educação de todos os cidadãos, passou a fazer parte do campo educacional propriamente dito e das preocupações públicas.” (p.54).
Cap III
“A tomada de consciência do problema ambiental tem que ver também com a crescente visibilidade e legitimidade dos movimentos ecologistas (...) de um jeito ecológico de ser, um novo estilo de vida, como modos próprios de pensar o mundo e, principalmente, de pensar a si mesmo e as relações com os outros neste mundo. Portanto, o modo ideal de ser e viver orientado pelos princípios do ideário ecológico é o que chamamos de sujeito ecológico, implicando diretamente na existência de uma sociedade plenamente ecológica.” (p.65).
Através da autora, podemos inferir que o pensamento e formação de um “sujeito ecológico” passa, acima de tudo, por uma reconstrução de consciência, costumes e práticas, em detrimento do beneficio coletivo, ambiental e socialmente mais justo. Esse sujeito ecológico, é determinado ou entendido em suas mais complexas variações, desde os chamados “de carteirinha”, sendo os mais radicais possíveis em defesa do meio, aos “simpatizantes”, que como a própria autora traz, são os que “identificam-se em alguma medida com a causa e tentam incorporar, mesmo que parcialmente, alguns valores ecológicos em suas opções e projetos de vida”, portando, em comum, uma postura ética de crítica à ordem social vigente, baseada na exploração ilimitada dos recursos, que apenas gera desigualdade, agressão ao meio e exclusão social e ambiental. Nesse contexto, a educação ambiental tem um papel vital pois, como ideal central, tem como missão contribuir para a constituição de uma consciência e atitude ecológica.
“O ecologismo nasceu criticando a aposta no progresso ilimitado tanto do ponto de vista da duração e da qualidade da existência humana, quanto da permanência dos bens ambientais e da natureza que convivemos.” (p.68).
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